Análise Textual – Capítulo 4

(Por Thiago)

            Na Análise do Capítulo 3 falei sobre a técnica narrativa “Mostrar VS Contar” (do inglês Show VS Tell). Algum leitor-escritor já conhecia? Falei brevemente antes e vamos nos aprofundar um pouco mais agora, porque este episódio é rico em exemplos. Analisemos o capítulo em camadas narrativas (porque têm várias histórias acontecendo ao mesmo tempo, vocês percebem?).

            A primeira camada é a que vemos “a olho nu”, é a ponta do iceberg, aquilo que acontece na superfície – ou seja, a ida de Andrei até o monastério para falar com o abade, as coisas e pessoas que ele vê no caminho, a aula que ele assiste etc. A primeira camada é o mundo objetivo.

            Seguindo na analogia do iceberg, a segunda camada está logo abaixo da superfície do mar, que não está tão à mostra: é a história que ocorre dentro de Andrei, seus pensamentos, sua ansiedade em relação ao sonho e aos monstros que viu, seu conflito interno sobre sua estadia ou passagem pelo Bosque dos Lamentos etc. São águas turvas, não podemos ver com clareza o que acontece embaixo delas, resta-nos a interpretação (que é a graça maior da literatura, não é mesmo?). A segunda camada é o mundo subjetivo.

            A terceira camada é a narrativa dentro da narrativa, as próprias histórias que os personagens contam sobre o mundo e assim nos revelam a História (com H maiúsculo) de Illuria. Por exemplo, o Mito da Criação lido por Micael, como também os Apontamentos para o Compêndio Illuriano dos capítulos anteriores. Todos eles estão contando uma terceira história, que não diz respeito a esse ou àquele personagem, externa ou internamente, mas que serve para estabelecer a fundação do universo, suas regras, seu passado, sua linha do tempo – em suma, os eventos que ocorreram antes do presente e nos trouxeram até aqui e que influenciam nas camadas um e dois.

            A quarta e última camada é a trama principal, que fica embaixo do iceberg, onde a luz mal penetra. Podemos dizer que ela é a junção das outras três; aos cruzarmos as informações obtidas nas três camadas, a trama principal se revela aos leitores, a princípio tímida e às escondidas, mas cada vez mais perceptível e palpável. Um exemplo: pelo que vimos até agora, é certo afirmar que tem algo maior acontecendo ou prestes a acontecer, tudo nos aponta para isso: o sonho de Andrei, o sonho de Danilo, a atividade dos monstros no Bosque… Nós, os leitores, pescamos os sinais e enxergamos o todo e sabemos que essas narrativas irão nos levar até esse “algo maior” em algum momento. Isso ficará ainda mais evidente quando saltarmos entre mais personagens.

            Em resumo, sobre o Capítulo 4 especificamente, a primeira camada é a história contada por Andrei (entrar no santuário, assistir à aula); a segunda camada é a sua impressão de si, das pessoas e das coisas (observações sobre as crianças e o abade, seus conflitos internos); a terceira camada é a história contada pelo abade (a narrativa dentro da narrativa); por fim, a quarta, é a mistura dos detalhes que pescamos aqui e ali, desde o Prólogo até agora, e que aos poucos vão desenhando a trama principal, esse “algo maior”, em nossas cabeças.

            Isso tudo que eu descrevi acontece de forma praticamente inconsciente. Vocês já devem ter reparado que, em lendo uma obra, subitamente você já aprendeu várias coisas sobre ela e não sabe dizer exatamente como. Pois eu te digo como! Está aí acima! Mostrar VS Contar! Imagine como seria monótono se eu simplesmente escrevesse o Mito da Criação como um narrador absoluto (em 3ª pessoa ou, no caso de Illuria, como o Malaquias, que desempenha em partes esse papel). É muito mais elegante (e econômico também) apresentar esses detalhes inseridos na ação. Ao invés de “contar”, fazer com que os próprios personagens “mostrem”. Assim, Micael conta a história, ela sofre interrupções, Andrei reflete e pensa, tem a situação do medo das crianças em relação a ele, o conflito interno de Andrei em relação ao Bosque (“estou aqui de passagem”, repararam que ele precisou afirmar isso DUAS vezes? Quase como se estivesse tentando convencer a si mesmo), etc etc.

            Escrever não parece tão simples quando destrinchamos um texto assim, não é verdade? Haha. 😄

            Por fim, é também neste capítulo que aprendemos sobre a religião em Illuria. Tudo leva a crer se tratar de um mundo monoteísta, ou seja, com um único deus. Uma outra entidade menor, Illuri, a qual foi mencionada anteriormente algumas vezes, finalmente ganhou sua origem e explanação. Illuri, aparentemente, foi uma tentativa do Criador de gerar uma cópia de si mesmo, e falhou; para citar o próprio livro: “a perfeição não pode ser recriada por ela mesma”. Ah, e vamos lembrar que livro é este: Os Cinco de Illuria, escrito pelo Zacarias Estrelado.

            E a torre de quartzo verde citada na lenda? Pareceu familiar? Seria o Templo Perdido de Illuri, descoberto pel’Os Cinco no Prólogo? A semelhança é bem grande. Teremos que esperar Micael ou outro personagem retomar a leitura do Mito. Porque, conforme vimos, ele não chegou a ler tudo; interrompeu justo quando ia tratar da criação das raças. Mas não podia deixar o pobre do Andrei esperando, né!

            No próximo capítulo, a espera chega ao fim! Por falar nisso, vocês sabiam que o link Capítulos ali no menu superior, além de trazer a lista em ordem cronológica, também sempre mostra o nome do próximo capítulo? Sabia não? Dá uma olhada lá!

            Até a próxima, pessoal! 🙂

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