Análise Textual – Capítulo 1

(Por Thiago)

            O Capítulo 1 chegou chegando, trazendo já no título uma passagem enorme de tempo. Cem anos! E logo no primeiro parágrafo somos apresentados àquela palavrinha que a confirma: “centenário”. Mas já passou tudo isso mesmo? Sim, querida leitora e querido leitor, já se passaram cem anos desde o que vimos no Prólogo. Ué, e Os Cinco? E a Porta? O que aconteceu? Este é o mistério que teremos de desvendar. Lembrem-se que o Prólogo é apenas uma introdução e mostra-nos o trecho de um livro jamais publicado (o qual é citado no Capítulo 1 também). Como não foi publicado, os povos de Illuria desconhecem-no; eles conhecem apenas o volume 1, intitulado “Os Cinco de Illuria”, o qual, aparentemente, suprimiu alguns detalhes, ou assim somos levados a crer. Cabe a nós desvendar esta incógnita. Mas fiquem tranquilos, não estamos sozinhos; um grande mago irá nos ajudar nesta empreitada, o personagem-narrador do Capítulo 1: o necromante Malaquias Nublado. Que nomes estranhos, não? Malaquias Nublado, Zacarias Estrelado… Ambos parecem fazer referência a um estado do céu. O que isso poderia dizer? Seriam mesmo nomes?

            Imagino que, ao começar a leitura do capítulo, nossos leitores devem ter estranhado quando o narrador menciona Zacarias. Afinal, não era Zacarias o narrador? Quem está falando (ou escrevendo) agora? Confirmamos sua identidade ao final do capítulo, com os dizeres: “Trecho das notas pessoais de Malaquias Nublado, Arquimago da Sociedade Exotérica”. Esta é uma peculiaridade da saga que já posso comentar. Illuria terá muitas vozes, muitos narradores, todos escrevendo em diários, memoriais, estudos, notas e cartas. A história será inteiramente narrada por seus personagens e quem narra pode variar de capítulo para capítulo. A história será apresentada como peças soltas de um quebra-cabeça e conforme se conectam, uma imagem vai surgindo. Entendo que, ciente disto, muitos leitores preferirão rolar a tela até o final, a fim de ver quem está narrando, antes de iniciar a leitura. Outros, optarão por ler sem saber e ir descobrindo conforme o episódio desenrola. Ambas são possíveis, não existe uma forma correta de ler Illuria. Leia como sentir-se mais à vontade.

            Bom, ok, cem anos se passaram, mas desde o quê? Malaquias cita uma grande guerra, chamada Guerra Eclipsal. E mais, ele diz também que Os Cinco causaram-na sem querer! Lembremos que os heróis buscavam um livro que continha uma verdade, com a esperança de, através dela, cessarem um conflito religioso. Malaquias afirma que a verdade que Os Cinco apresentaram ao mundo falhou miseravelmente em impedir a contenda, ao contrário, teria agravado o quadro, evoluindo para esta guerra terrível, na qual os próprios cinco aventureiros teriam perdido a vida. Que triste tragédia, em pensar que esta seria a última aventura deles, antes de se aposentarem (afinal, ser aventureiro é uma profissão neste mundo, mas a própria história se encarregará de explicar isso mais pra frente). E como Malaquias sabe de tudo isso? Segundo o próprio mago, ele teria vivido nesse período e era, inclusive, amigo pessoal de Zacarias. Mas como isso seria possível, se foi há cem anos atrás? Bem, aprendemos também que Malaquias é um necromante, isto é, um mago especializado em magias da morte. Quem sabe ele não esteja usando um feitiço para atrasar seu fim.

            Ele também cita alguns lugares, datas e até o nome da Era passada, porém não fornece explicações sobre eles. O necromante escreve como se nós já soubéssemos do que ele está falando. Esta é uma técnica de imersão que empregarei em toda a composição de Illuria: os personagens não falam para nós, terráqueos; eles falam para os illurianos. O “caro leitor” a quem Malaquias se refere é alguém que habita seu mundo e que um dia possa vir a ler seu artigo. Ora, se ele escreve para alguém que já conhece a cidade de Galileo ou o reino de Ceregalim ou o que foi a Era dos Heróis, por que ele se daria ao trabalho de explicar tim-tim por tim-tim de novo? Os leitores de Illuria experimentarão a saga como se de fato vivessem em Illuria. É claro que, com alguma engenhosidade, faremos que tudo seja demonstrado de uma forma clara e não fique obscuro. Mas é certo que muitos conceitos serão introduzidos como se vocês já os conhecessem; caberá aos nossos leitores interligarem as informações e deduzirem os significados. Monte o quebra-cabeça! Eu, particularmente, amo este tipo de leitura e por esta razão estou adotando esta prática. Você sente como se fizesse parte daquele mundo, como se fosse um personagem também, enquanto desvenda o que não é dito. Literatura nunca trata do que é óbvio; é nas entrelinhas que a catarse acontece.

            Uma coisa é certa: Malaquias parece estar determinado a descobrir tudo o que ficara oculto sobre a guerra e sobre Os Cinco. Ele chega a referir esta história como um mito, indicando que porventura não acredite no que se conhece até o momento, ainda que ele tenha vivido durante o período, ainda que tenha conhecido pessoalmente o autor da obra que revelara as verdades.

            Por fim, chamo atenção para um detalhe na assinatura do capítulo. Por ela, descobrimos que Malaquias não é apenas um mago, mas um Arquimago. O que tal título significa? E mais, Arquimago da “Sociedade Exotérica”. Reparem que se trata de “Exotérica”, com X, e não “Esotérica”, com S. A diferença entre as duas é crucial! O que seria tal grupo? Qual a missão deles em Illuria? Onde ficam localizados? Em momento algum Malaquias cita onde ele está. A ilustração dá algumas pistas sobre o personagem, embora ele apareça de costas: a ausência de pés e mãos. Mas isto eu deixo para a Ana comentar na quinta-feira, na Análise Visual. Encerro minhas observações com uma pergunta: qual terá sido o preço da paz explicitada no título do Capítulo 1?

            Até a próxima, pessoal!

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