Reinos de Illuria: Etéria

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ETÉRIA, O REINO MÁGICO

Geografia:

            Etéria é uma ilha localizada ao centro do Mar-de-Dentro. Por conta disso, não faz fronteira com nenhum reino, mas marca a linha imaginária que divide o mar em dois territórios marítimos, o de Primera e o de Secunda. É considerada uma ilha de tamanho médio, em comparação com as demais.

            Sua região é plana, com pouca vegetação e um pequeno grupo de montes jamais nomeados. O espaço natural da ilha com certeza foi alterado, talvez magicamente, para que comporte predominantemente a capital e única cidade do reino, a qual também compartilha do mesmo nome. Etéria nomeia o reino, a cidade e a ilha, como se fossem uma coisa só, indivisível. O nome deriva da palavra éter, um mítico elemento arcano e alquímico, cuja existência jamais foi efetivamente comprovada. Segundo a teoria, o éter – ou quintessência – seria a substância que preenche a abóbada celeste e o vazio entre os astros. A referência ao céu não é por acaso, como muitas outras nomenclaturas usadas pelo reino.

            Toda a ilha e boa parte do mar diretamente no seu entorno são envoltos por um encantamento: uma espécie de bolha invisível dentro da qual o clima e a maré são controlados. Uma magia semelhante a que regulava o frio de Édar Lunda durante a Era dos Deslumbres. O clima em Etéria é sempre ameno, nem quente, nem frio, tendendo mais para o frescor; a temperatura ideal para a produção intelectual. Apesar disso, faz sol ou chove normalmente. Também venta, embora as ondas sejam sempre calmas.

            Devido à sua posição estratégica, o porto de Etéria é sempre movimentado e serve como ponto de parada para navios cruzando o mar entre Primera e Secunda. Um rigoroso controle fiscal regula a entrada e saída de barcos, assim como a entrada e permanência de estrangeiros na cidade. A grande maioria dos navegantes só pode acessar a área do cais ou, quando muito, a cidade em si. Apenas membros da Sociedade Exotérica podem acessar o perímetro da academia.

            Apesar de isolada, a ilha é autossuficiente, com suas próprias fazendas e criação de animais. Em contrapartida, não há fauna e flora. Os animais selvagens que um dia habitaram a ilha foram extintos durante a colonização; apenas aves migratórias e marítimas ainda fazem de Etéria sua casa. E qualquer vestígio de floresta que possa ter havido um dia, desapareceu sob golpes de machado, para dar lugar ao concreto e à pedra dos quais se ergue a capital.

História:

            A história de Etéria teve início com a expansão de Brammaccia. Quando a Casa Hedonicci cruzou o Mar-de-Dentro com suas caravelas, rumo à Secunda, acidentalmente descobriram a ilha. Embora a descoberta tenha sido deles, a ilha foi anexada ao território dos Galileo. A Casa Galileo teria sido escolhida devido à sua prevalência nas planícies, guarnecendo o forte que patrulhava A Longuíssima Estrada, desde Brammaccia até o porto na Enseada dos Poetas, o qual mais tarde viria a tornar-se a província portuária Fortana. Sendo esse porto a única forma de acessar a ilha, fazia sentido que seus protetores também protegessem a ilha.

            Alguns historiadores propõem outra teoria, no entanto. Partindo do pressuposto que faria muito mais sentido que os Hedonicci, que detinham o poder naval, administrassem uma região em alto mar, esses historiadores teorizam que a escolha por Galileo deu-se de forma arbitrária, baseada unicamente numa predileção por parte da família real, a Casa Romanosque. E talvez pensem assim também os Hedonicci, cuja primeira ação em Secunda, após afugentarem os monstros para o Sul, fora construir um porto, quem sabe em uma tentativa de fazer a coroa reavaliar aquela decisão, coisa que nunca ocorreu. Após a maldição e subsequente queda de Brammaccia, qualquer chance de Hedonícia reaver a ilha que descobrira estava perdida.

            Os galilenos, sendo um povo ligado à terra e ao plantio, não tinham interesse no mar e não se preocuparam em colonizar a ilha. Fizeram com ela o mesmo que fizeram com o resto de Primera: transformaram-na em uma estrada. Construíram-lhe um porto, chamado simplesmente de Porto-de-Dentro, para servir de parada na travessia do mar; uma extensão d’A Longuíssima Estrada.

            Assim permaneceu por muitos anos, até que um fenômeno em outra parte do mundo, sem qualquer relação com a ilha, mudaria sua história para sempre. Ao fim da Era dos Deslumbres, o advento do Cataclismo Glacial devastou Édar Lunda e, com o reino destruído, seus necromantes subitamente viram-se sem casa e espalharam-se por Primera, levando com eles a proibida escola Obscura. Sob o reinado de Andrej I, O Erudito, a inquisição para erradicar a Necromancia de Primera teve início. O problema era que, em se tratando de uma escola de magia muito nova, não se sabia como lidar com os necromantes para derrotá-los.

            Ironicamente, seria um necromante a mudar o rumo dessa empreitada. Esse era Malaquias. Ele já era um lich na ocasião: um necromante que guarda seu espírito em um objeto – denominado filactéria –, não estando assim nem vivo e nem morto, mas em uma condição suspensa entre a vida e a morte, embora seu corpo físico tenha efetivamente expirado e esteja, inclusive, deteriorando. Havendo conquistado essa imortalidade emprestada e visando mantê-la, Malaquias deixou-se capturar para conseguir falar com o rei galileno e fazer-lhe uma proposta: Malaquias os ensinaria como combater os necromantes e vencê-los, em troca de sua segurança, sua liberdade e algo mais, não só para ele, mas todos os magos de Illuria: uma academia onde pudessem desempenhar seus estudos, sem obstrução externa. E Andrej, sem alternativas, aceitou sua oferta, mas com duas condições: desde que essa universidade servisse a Galileo como um bastião mágico e centro de estudos arcanos do reino, e que nunca ensinasse Necromancia. Uma medida preventiva; tendo em vista o incidente recente envolvendo magia em Édar Lunda, era prudente que Galileo se antecipasse.

            Malaquias aceitou as condições e sua traição para com seus pares resultou no sucesso imediato das cruzadas. Equipados com os conhecimentos do mago edarlundino, os cruzados conseguiram suprimir as artes necromânticas em Primera, forçando os necromantes sobreviventes a fugirem novamente, dessa vez para Tertiera, onde também seriam duramente caçados pelos imiranos. Com a missão concluída, Andrej honrou seu compromisso com o mago, no entanto, como Necromancia era uma prática ilegal e o estado de lich é irreversível, Malaquias não poderia permanecer em Galileo, ou Primera como um todo. Malaquias apresentou, então, a ideia de construir a academia fora do continente, na ilha, adjunta ao Porto-de-Dentro.

            As obras iniciaram no mês seguinte e dizem que o próprio necromante tomou parte nelas, usando de sua magia para combinar materiais e erguer edifícios. O primeiro a ser erguido foi a Torre Central, onde funcionaria a academia arcana. No mês seguinte, já estaria admitindo alunos.

A Sociedade Exotérica:

            Não demorou para que a academia crescesse e se tornasse algo maior. Por tratar-se de uma ilha, os magos que buscassem a vida acadêmica eram obrigados a morar lá. Aos poucos, o desenho de uma cidade foi surgindo, a qual foi batizada, junto com a ilha em si, de Etéria. A nova província, tão afastada do reino, precisaria de um corpo administrativo e tanto Malaquias quanto Andrej tinham noção de que um necromante à frente de uma cidade galilena seria um escândalo.

            A solução de Malaquias foi restabelecer o grupo do qual fizera parte na antiga Glacinatta, então chamado de Sociedade Esotérica, porém com algumas diferenças. Esotérico, com S, significa um conhecimento restrito, ensinado a um grupo seleto de pessoas; em outras palavras, um segredo. Esse era a própria Necromancia, sendo praticada secretamente em Édar Lunda pelos membros do grupo. O nome teve de sofrer uma pequena alteração, contudo, para refletir os ideais da academia galilena, de uma escola pública e aberta para todos os magos. Assim, o S foi substituído pelo X; Exotérico significa um conhecimento que pode ser ensinado publicamente, para um grupo vasto de pessoas, sem segredos.

            O grupo seria responsável pela administração de Etéria e para que a liderança do grupo não ficasse nas mãos cadavéricas de um necromante, formou-se o Conselho Celeste. Esse Conselho seria composto pelos quatro membros mais proeminentes da Sociedade Exotérica, membros que se destacassem dos demais pelo seu entendimento arcano, caráter moral e contribuições para a comunidade: os Arquimagos. Devido ao Celeste no nome do conselho, as quatro cadeiras receberam estados do céu como designação: Nublado, Estrelado, Ensolarado e Tempestuoso, os quais eram utilizados como sobrenomes. Os cargos eram vitalícios; seus ocupantes assumiam-nos até escolherem um substituto ou até morrerem. Caso morressem antes de eleger um sucessor, os membros remanescentes votavam um novo Arquimago para assumir a cadeira.

            Etéria passou, então, a ser governada pela Sociedade Exotérica, que atuava como representante da coroa galilena na ilha. A Sociedade Exotérica, por sua vez, era comandada pelo Conselho Celeste, que tomava as decisões em conjunto, através de voto e deliberação, na Cúpula dos Arquimagos. E o Conselho Celeste, cujo membro mais antigo era também seu fundador, olhava para esse Arquimago como uma espécie de líder não oficialmente declarado. Desse modo, através de um sagaz jogo político e burocrático, um necromante tornou-se o governador de facto de uma província galilena. Aos olhos de todos e invisível.

            Dada sua condição de lich, Malaquias é incapaz de morrer de formas naturais, de modo que o posto de Nublado jamais foi ocupado por outro além dele. O posto de Tempestuoso também sempre foi ocupado pelo anão Titoh Gombirolin, o segundo Arquimago de Etéria e cofundador do Conselho. Titoh, segundo dizem, já viveu tempo demais até para um anão e há boatos de que se prepara para morrer, o que implicaria em um novo Arquimago assumindo sua cadeira. Os postos de Estrelado e Ensolarado foram ocupados por inúmeros membros ao longo da história de Etéria, sendo os mais famosos Zacarias e Jeremias, respectivamente. Atualmente, o posto de Ensolarado é ocupado pela elfa solar Fa’Diel. O posto de Estrelado permanece vazio; segundo Malaquias, aguardando um substituto à altura do antecessor.

Presente:

            Com o passar do tempo e das cabeças que sustentavam a coroa galilena, o nível de importância atribuído à ilha mudava junto com o monarca. Apesar da ilha e da cidade manterem-se como um território de Galileo, o grupo Sociedade Exotérica tornou-se independente, o que lhes garantia a prática da política interna como desejassem; uma premissa que o Reino Primaveril aceitava sem pestanejar, desde que continuassem recebendo as vantagens do relacionamento com Etéria. E não eram poucas: acesso à uma academia arcana e à mais vasta biblioteca do mundo, torres de teletransporte, conselheiros em assuntos mágicos, entre outros.

            Havia um único preceito que a Sociedade Exotérica não estava disposta a quebrar, nem por Galileo, nem por ninguém: o preceito da neutralidade. Os magos não tinham interesse em envolver-se nos conflitos entre as nações, já que a academia recebia membros de todas as partes do mundo. E Galileo, satisfeito com os privilégios da relação com os magos, não cogitou que essa prerrogativa viria a ser um grave empecilho em breve.

            Quando eclodiu a Guerra Eclipsal, os Arquimagos votaram e decidiram, por três votos a um, a não participarem do conflito. Com a derrota do Sol de Ferro nas primeiras batalhas e com o avanço da Lua Sangrenta sobre a região central das planícies, Galileo viu-se subitamente encurralado e solicitou a ajuda de Etéria; e Etéria não respondeu a seu chamado. Após a queda de Franchesca, em um ato desesperado, o rei galileno de então, Amarante, enviou aos Arquimagos uma proposta irrecusável: a independência de Etéria em troca de seu auxílio na guerra. De fato, os magos não recusaram; a independência de Etéria era uma causa pela qual valia a pena suspender o princípio de neutralidade e lutar.

            Os historiadores do período são da opinião unânime de que, não fosse a intervenção dos magos, a Lua Sangrenta decerto teria vencido e o curso da História seria bem diferente. E essa intervenção alterou mais do que o destino de Primera, mas até sua estrutura geográfica. Isso porque Arquimago Tempestuoso e seus geomantes, equipados com o Orbe Mágico, invocaram uma cordilheira inteira do nada – a Mandíbula do Dragão – e aprisionaram orks e elfos lunares ao Sul, cercados pelas montanhas de espinhos. Assim, os magos venceram a guerra e conquistaram a independência de Etéria, que deixou de ser uma província para tornar-se seu próprio reino, governado pelos Arquimagos.

            Da Era dos Heróis até o presente na Era da Fortuna, Etéria foi sucessivamente cortando suas conexões com os continentes. A guerra deixara uma marca profunda na Sociedade Exotérica, que subitamente se viu sem membros qazarqianos, lunari e orkin, e sem dois de seus Arquimagos, Jeremias e Zacarias, que teriam perecido durante as batalhas. A neutralidade não era o bastante para afastar a ilha dos conflitos; eles haviam de se isolar. As Torres Cardeais foram desativadas uma a uma e o exame de ingresso na academia tornou-se mais rigoroso. O Porto-de-Dentro ainda funciona, havendo tornado a ser a extensão de uma longuíssima estrada que não mais existe; uma mera parada para os navios cruzando o Mar-de-Dentro.

            Na atualidade, Etéria é vista como um reino misterioso, pacífico e isolado, e como um refúgio seguro para magos de todo o mundo. Embora não possua um exército propriamente, demonstrou seu poderio bélico durante a guerra e como a magia pode influenciar de maneira decisória no arremate de uma contenda. Quem sabe devido a isso os reinos prefiram convenientemente ignorar a existência da ilha e o fato de um necromante da antiga Édar Lunda ter em suas mãos uma milícia arcana.

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