Capítulo Comentado: 45

            ATENÇÃO: Esta análise contém spoilers da trama. Recomenda-se a leitura deste post apenas após ler o Capítulo 45 para um melhor aproveitamento da narrativa. Dito isto, vamos à análise!

            No Capítulo 45, no meio de toda tristeza em Álgida, Bianca deparou-se com uma grande revelação sobre si, como se não bastassem todas as transformações ocorrendo no interior de nossa querida barda aspirante. No olho do furacão, com o coração turbulento, Bianca Miranta descobre que é uma parente de um membro d’Os Cinco; ninguém menos que O Mago, Zacarias Estrelado – ou Zacarias Miranta, conforme descobrimos no capítulo.

            Sabemos que os Arquimagos de Etéria usam estados da abóbada celeste (Estrelado, Nublado, Tempestuoso e Ensolarado) para designar as quatros cadeiras que compõem o conselho que rege Etéria (não à toa chamado de Conselho Celeste). Por exemplo, o sobrenome de Jeremias Ensolarado era Szafiro, conforme descobrimos no Capítulo 40; o sobrenome de Titoh Tempestuoso é Gombirolin, conforme vimos em sua carta no Capítulo 32; e no Capítulo 45 descobrimos o sobrenome de Zacarias.

            Mas teria esta revelação sido tão repentina assim? Na verdade, não! E nesta análise quero mostrar como essa revelação já vinha sendo preparada desde o Arco 1, tão cedo quanto o Capítulo 7! Vejamos a citação abaixo:

            “Conforme mencionei na introdução deste artigo, a maneira que os heróis utilizaram para divulgar a verdade se deu através de uma obra autobiográfica intitulada “Os Cinco de Illuria”, escrita pel’O Mago, meu amigo de longa data, meu caro Zacarias Miranta.” – Capítulo 7, escrito por Malaquias.

            Esta foi a primeira vez. O primeiro capítulo escrito por Bianca é o 15 e nele já vemos seu sobrenome em sua assinatura (como em todos os capítulos escritos por ela):

            “– Trecho do caderno de notas de Bianca Miranta, batedora de Álgida e barda aspirante.”

            Mas estas não foram as únicas pistas. Como eu relatei em várias das Análises Textuais, Illuria deve ser lido como um quebra-cabeças. As peças estão todas sobre a mesa, mas cabe ao leitor juntá-las, como um jogo de RPG. Vejamos mais algumas citações, com grifos meus destacando informações importantes:

            “Ninguém diria que, dentro de um mês, comemorará seu centenário. Que tenha sobrevivido à tundra por todos estes anos é, por si só, uma façanha. Vovó nasceu em 1382, o ano em que terminou a grande guerra. Por este motivo, seus pais chamaram-na Esperança, porque nascera junto com a Era da Fortuna e anunciava a chegada de uma nova época.” – Capítulo 15, escrito por Bianca, sobre sua avó.

            “– Não precisa se preocupar tanto, Bia – disse ela, com sua voz trêmula. – Eu sou uma Miranta.” – Capítulo 16, dito por dona Esperança.

            “– Mamãe já nos alertava a respeito, depois que o irmão dela se envolveu com gente de fora e acabou saindo de Álgida para estudar magia – respondeu, meneando a cabeça. – De todas as coisas, magia! Como resultado, nunca cheguei a conhecer meu tio.” – Capítulo 18, também dito por dona Esperança, referindo-se à Zacarias.

            “Pensava na minha irmã e em Álgida. (…)” – Interlúdio I, escrito por Zacarias, referindo-se à mãe de dona Esperança.

            “Teria algo a ver com o Livro, meu amor? Você não o deixou em Álgida, com sua irmã?” – Capítulo 40, na nota escrita por Jeremias, referindo-se à mãe de dona Esperança.

            “Sim, eu sabia que Zacarias e Jeremias eram edarlundinos, ambos do vilarejo de Álgida, onde Zacarias ainda tinha família. Se não me falha a memória, sua irmã mais nova estava para ser mãe naquele ano de 1382.” – ainda no Capítulo 40, escrito por Malaquias, referindo-se também à mãe de dona Esperança. Sabemos que a avó de Bianca está celebrando seu centenário, conforme citação aí acima, e a história se passa em 1482, então as datas batem.

            Como podem ver, não apenas houve pistas, como também não foram poucas! E a culminância delas, em um crescendo, deu-se no Capítulo 45. Mas calma, se você não as percebeu enquanto lia, isto não é culpa sua ou falta de atenção! Isto significa somente que estou fazendo meu trabalho direito, porque esta era a intenção mesmo, que você não as percebesse. O texto foi intencionalmente composto com distrações para que sua leitura seja, como dito acima, parecida com um jogo que precisa ser desvendado. A releitura de Illuria será praticamente um modo New Game +, haha.

            A escolha estilística de fazer os próprios personagens escreverem suas histórias me dá esta liberdade, de poder apresentar a história em fragmentos que o leitor deve reunir e interligar. Consequência de uma infância repleta de Agatha Christie, haha. Eu AMO histórias com mistérios a serem desvendados e por esta razão trouxe este traço para Illuria. Porque agora eu também estou amando escrever uma história assim. E posso assegurá-los, leitoras e leitores, o caso de Bianca não é único; existem várias outras pistas, aqui e ali, sobre locais, lendas, crenças e, é claro, outros personagens. Conforme forem surgindo, vamos comentando por aqui em análise, mas fica aqui o desafio: o que já foi revelado na história, que pode ter passado despercebido? Por exemplo, tem dois Arquimagos cujos sobrenomes não foram revelados ainda; ou melhor, um Arquimago e uma Arquimaga. De quem estou falando, hein?

            A revelação do parentesco entre Bianca e Zacarias deu-se através da descoberta, totalmente por acaso, do porão onde o livro de Zacarias estava escondido. Este livro, como sabemos, é mencionado diversas vezes por Malaquias. É neste livro que Zacarias revela o que não contou no Primeiro Tomo de “Os Cinco de Illuria”. Ninguém sabia onde estava esse livro até agora, mas nós, que acompanhamos de fora, já sabíamos que o livro existe! Afinal, o Prólogo do Arco 1 e o Interlúdio I que abre o Arco 2 SÃO passagens deste livro, o que é confirmado pela assinatura em ambos os capítulos:

            “– Trecho do manuscrito original jamais publicado da continuação de Os Cinco de Illuria, escrito por Zacarias Estrelado.”

            Não foi publicado, mas foi escrito! E agora este manuscrito está nas mãos de Bianca. O que ele nos revelará? O tempo dirá, porém uma coisa é certa: se este Segundo Tomo está com Bianca, seria correto afirmar que quando nós lemos o Prólogo e o Interlúdio I, na verdade, era como se fosse a própria Bianca lendo-os? Nesse caso, que Bianca leia logo os demais; sei que tem muita gente curiosa por aqui, haha. Até a próxima, pessoal!

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