Reinos de Illuria: Brammaccia

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BRAMMACCIA, O REINO OUTONAL

Geografia:

            Brammaccia ocupa grande parte da costa leste de Primera, entre Édar Lunda e Qazárqan. Sua região é predominantemente planície, com algumas colinas. Não há praias; conforme se aproxima da costa, o terreno inclina-se, formando um penhasco para o Oceano do Criador.

            A Cordilheira Dorsal serve como uma muralha natural para o reino. Em um passado distante, a única forma de entrar e sair de Brammaccia ocorria pelo Vale Longevo, o qual abre caminho entre as montanhas. Por ele já passou uma estrada que conectava Brammaccia à costa oeste, chamada de A Longuíssima Estrada, a maior de que se tem notícia na História.

            Na divisa das fronteiras entre Brammaccia, Qazárqan e Galileo, há uma gruta que leva à Tertiera – a Gruta Central. Estima-se que era através dessa gruta que os gnomos, anões e elfos lunares faziam comércio com os brammaccios.

            Atualmente, todo o território de Brammaccia está tomado por uma densa floresta temperada, a Floresta Nebulosa, que dizem ter ligação com a maldição do reino. Sua flora é composta por bordos, carvalhos, castanheiros, faias, olmos e cedros, além de arbustos e plantas rasteiras. Durante o outono, as folhas das árvores adquirem tons avermelhados, marrons e dourados, de onde vem a alcunha de Reino Outonal. Durante o inverno, contudo, suas folhas caem, dando um aspecto sinistro para a floresta desnuda. Nas demais estações do ano, predomina o verde musgo. A fauna é composta majoritariamente por raposas, linces, lobos, ursos, cervos, coelhos, marsupiais, javalis, esquilos e aves de variados portes. Estranhamente, os animais não parecem afetados pela maldição.

História:

            Brammaccia é considerada o berço da sociedade humana e seu nascimento remonta às primeiras Eras da antiguidade. Foi o primeiro reino humano a surgir em Illuria e, por muito tempo, o único a existir. Seu nome é um tributo ao dragão homônimo que habitava o território entre a Cordilheira Dorsal e a costa leste, durante a longínqua Era dos Dragões.

            Diz-se que, com o êxodo dos dragões de Illuria, quatro tribos humanas se reuniram naquela região e se organizaram como uma só comunidade, e lá ergueram a primeira cidade humana. Batizaram-na com o nome do dragão que um dia chamou aquele local de lar. Brammaccia nascia.

            As raças antigas (elfos, gnomos e anões) demoraram a tomar conhecimento de Brammaccia, já que os humanos, com uma expectativa de vida curta comparativamente, levavam mais tempo para desenvolverem-se. O surgimento de Brammaccia mudou tudo e inseriu os humanos no cenário político, comercial e econômico de Primera.

            Os herdeiros das quatro tribos fundadoras tornaram-se a nobreza brammaccia e institucionalizaram-se como Grandes Casas, cada uma contribuindo para o progresso do reino com aquilo que fazia de melhor.

            A Casa Romanosque, a maior e mais influente, assumiu o trono e estabeleceu-se como a realeza brammaccia. Eram os sucessores de uma tribo de guerreiros e, portanto, quem detinha o poderio militar do reino.

            A Casa Galileo era a segunda mais influente, por deter domínio sobre a agricultura e a pecuária. Eram os sucessores de uma tribo de caçadores-coletores e possuíam as plantações e criações de animais que alimentavam o reino.

            A Casa Hedonicci era a terceira mais influente, por conquistarem os mares com sua engenharia náutica. Eram os sucessores de uma tribo de pescadores e navegadores, responsáveis por toda a frota marítima do reino.

            Por fim, a Quarta Casa, cujo nome esqueceu-se, era a que detinha menor influência, composta por artistas, filósofos e magos; assumiram a diplomacia e as ciências humanas e exatas do reino. Eram os sucessores de uma tribo nômade, que caminhava sobre a terra acumulando conhecimento.

            Com o desenvolvimento do Reino Outonal, as quatro Grandes Casas decidiram expandir suas fronteiras, fundando províncias nas regiões inabitadas do entorno, a fim de conquistarem esses territórios unicamente por chegarem primeiro.

            A Quarta Casa rumou para o Norte, para uma região fria denominada Édar Lunda, onde fundaram Glacinatta. A Casa Galileo rumou para o Centro, para as Planícies Verdejantes, onde fundaram Galileo, na metade do caminho até o Mar-de-Dentro pel’A Longuíssima Estrada. A Casa Hedonicci foi a que chegou mais longe; cruzou o mar e rumou para os Planaltos dos Bons Ventos, em Secunda, onde fundaram Hedon. Por fim, a Casa Romanosque permaneceu em Brammaccia, de onde exerciam seu domínio sobre dois terços de Primera e metade de Secunda.

            Os demais reinos viram-se obrigados a reconhecer a soberania daquela nação. Os humanos, embora vivessem menos que as raças antigas, mostraram-se um povo deveras resiliente, capaz de se espalhar depressa e fazer-se presente no mundo.

A Maldição:

            Até os dias de hoje não se sabe exatamente quando ou como a maldição de Brammaccia teve início. Em algum momento da Era do Fulgor, uma estranha névoa soprou sobre o reino e cobriu-o por inteiro. E, assim, subitamente, o Reino Outonal nunca mais foi visto. Toda tentativa de comunicação com a capital fora inútil; nenhum brammaccio jamais escapou do nevoeiro e aqueles que o adentravam também nunca saíam.

            A maldição cortou à força os laços entre a Casa Romanosque e as outras três Grandes Casas. Com a queda de Brammaccia, as províncias declararam independência, tornando-se reinos autônomos, regidos por seus próprios governos: Galileo, Hedonícia e Édar Lunda – os últimos brammaccios, descendentes dos primeiros humanos. Deixaram sua marca sobre Illuria, mas sua influência no mundo, antes unificada, agora se encontrava fracionada e, consequentemente, menos intimidadora.

            Nenhum estudo ou pesquisa sobre a névoa deu frutos e todas as excursões nevoeiro adentro tiveram um fim trágico. Com a ausência de resultados, eventualmente os povos foram desistindo de tentar descobrir qualquer coisa e Brammaccia foi caindo no esquecimento. Não se sabe com certeza o que aconteceu ao reino no interior da névoa. Por razões óbvias, presume-se que, isolada do resto de Primera, Brammaccia tenha definhado aos poucos, até sumir.

            Sem a interferência humana, a vegetação cresceu desenfreada e tomou toda a região, dando origem à Floresta Nebulosa. Há quem jure que, ao passar perto dela, avista monstros horrendos transitando pela névoa. De igual modo, há quem jure nunca ver nada. Sabe-se que os animais conseguem trafegar sem empecilhos, para dentro e para fora do nevoeiro, do que se supõe que a maldição afete somente as espécies humanoides. A pergunta que fica é: por quê? Permanece um mistério sem solução.

Legado:

            Poucos registros de Brammaccia sobreviveram às Eras; se algum ainda existe, talvez só as Grandes Casas os conservem. Entretanto, muitas lendas sobre o primeiro reino humano ganharam o imaginário coletivo, principalmente devido a uma peça teatral intitulada O Trono do Desejo. Hoje, a peça é a única conexão com os tempos da velha Brammaccia, muito embora se estipule que ela não tenha sido escrita por algum brammaccio real. Como seu autor é anônimo, provavelmente nunca saberemos.

            A peça passa-se na Brammaccia já amaldiçoada, ou seja, a história pressupõe que o reino sobreviveu no meio do nevoeiro e, de algum modo, perdura. Na peça, a consequência principal do isolamento de Brammaccia é o atraso: o reino vive estagnado em uma época de cavalaria, sem qualquer contato com os avanços do mundo moderno, como magia ou tecnologia gnomical. A estória narra uma trama de intriga política, envolvendo uma disputa entre vários personagens pelo trono, tendo como protagonista uma herdeira da Casa Romanosque.

            A peça toma algumas liberdades poéticas, citando grupos, lugares e eventos supostamente fictícios. Por exemplo, um tema forte na obra são os cavaleiros, divididos em dois grupos antagônicos, os Capa Carmesim e os Capa Outonal. Não há qualquer registro histórico que comprove que tais grupos tenham realmente existido. Curiosamente, uma outra lenda cita cavaleiros com nome semelhante, os Capa Invernal de Édar Lunda, do mito do Rei Frígido. Uma coincidência e tanto, considerando-se que o Rei Frígido foi um descendente da esquecida Quarta Casa brammaccia.

            O evento mais marcante citado na obra relata como o rei dos gigantes ordenou uma invasão a Brammaccia para tomá-la. Em resposta, o Reino Outonal enviou seis dos seus melhores cavaleiros à terra dos gigantes, o Arquipélago dos Titãs, para saquear o trono de onde emanava o poder de seu rei. Uma vez na posse do Trono do Desejo, Brammaccia consegue responder ao ataque e extingue completamente os gigantes da face de Illuria.

            O inusitado nessa citação é que não existe um arquipélago com esse nome em Illuria. Também nunca se encontrou vestígios das ossadas dos gigantes mencionados na obra. Com isso, presume-se que ambos são invenções do autor.

            Por alguma razão, tem-se ouvido falar mais em Brammaccia neste início de segundo século da Era da Fortuna. Quiçá porque há boatos de que O Trono do Desejo entrará novamente em cartaz no Teatro Real galileno, durante o festival do centenário do fim da Guerra Eclipsal. Caso venha mesmo a estrear, quem sabe reavive na memória humana algum traço de sua velha Brammaccia e da época em que os humanos, apenas existindo e multiplicando-se, quase tomaram o mundo inteiro para si.

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