Análise Textual – Capítulo 31

(Por Thiago)

            Nesta análise nosso tema será flashback, afinal, esta técnica narrativa teve um papel importante no Capítulo 31 (e diversos outros anteriores). De forma resumida, um flashback é uma memória MOSTRADA e não CONTADA (lembram do Show VS Tell?). E o que isso quer dizer? Vejamos um exemplo: os capítulos sobre a Guerra Eclipsal (I, II e III), narrados por Malaquias. Embora tratem de lembranças do passado, eles não são considerados flashbacks. Porque Malaquias não MOSTRA as cenas, ele CONTA as cenas.

            Contar tem um papel informativo, isto é, situar o leitor sobre um determinado ponto, o que por sua vez tem diversas funções: worldbuilding, foreshadowing, criar uma expectativa ou suspense etc. Mostrar pode ter as mesmas funções, porém seu papel é colocar o leitor dentro da cena, fazê-lo sentir o mesmo que os personagens e, muitas vezes, tirar suas próprias conclusões sobre o que está sendo mostrado. Ou seja, mostrar não se preocupa em informar.

            Vejamos um exemplo concreto:

            “Nós, os quatro Arquimagos (Jeremias, Titoh, Zacarias e eu), votamos para definir o rumo que tomaríamos diante daquele cenário. Por três votos a um estabeleceu-se que a Sociedade Exotérica não tomaria partido, nem ingressaria nas batalhas, sendo de Zacarias aquele único voto a favor da participação. Nunca o vi tão transtornado quanto naquele dia e, conhecendo-o como o conhecia, eu sabia que ele sentia-se responsável pela avalanche, como se sua publicação de Os Cinco de Illuria houvesse sido a primeira bola de neve. Ah, meu bom Zacarias, eterna vítima da culpa auto-infligida. Não cuidava que só atirara a milésima bola de neve de uma avalanche que, cedo ou tarde, cairia de qualquer modo.” – trecho do Capítulo 7: A Guerra Eclipsal I.

            Neste exemplo, Malaquias apenas nos informa de fatos ocorridos no passado. E apesar de Malaquias descrever sensações, ele não dá forma a elas, não coloca as pessoas mencionadas sobre um palco visível pelo leitor. Isto não configura um flashback.

            Talvez fique mais fácil visualizar a diferença mostrando o que de fato é um flashback. Um ótimo exemplo é a parte inicial do Capítulo 27, tratando do Orbe Mágico. Malaquias não se limita a descrever as propriedades do Artefato, ele nos coloca dentro da cena, mostra cada reação das pessoas envolvidas e suas impressões pessoais, relata os diálogos e os movimentos. A lembrança está viva; creio que esta seja uma boa definição para flashback: uma memória viva.

            Voltando para o Capítulo 31, a cena que o abre trata do dia em que Fa’Diel foi apresentada ao estelar e às Torres Cardeais por seu antigo mestre. Toda a cena foi construída para explicar ao leitor (parcialmente) o funcionamento das torres e para que eles serviram num passado (quase um inception, com uma memória dentro de uma memória). Mas, por se tratar de uma cena, podemos captar mensagens que vão além da explicação. Por exemplo, por que Fa’Diel fica tão incomodada com seu erro bobo de chamar Malaquias de mestre? Fica a pergunta para o leitor responder, dentre outros detalhes escondidos pelo capítulo.

            Agora reparem: como o flashback introduz o episódio, eu pude inserir nele as descrições todas da torre, da estátua, do cristal etc. Assim, quando voltamos ao presente e à ação, estas características já estão bem definidas para o leitor e podemos seguir com a trama de forma fluida, sem precisar interromper para ainda descrever o cenário. Reparem como Fa’Diel não se preocupa em dizer como é o interior da torre quando está fugindo, pois isto já ficou estabelecido em seu flashback. Esta é a dica: usem e abusem de flashbacks, ajudam bastante no desenvolvimento de uma história, além de propiciarem tratar de eventos passados de uma forma bacana. Uma solução elegante para narrativas que se passam em vários períodos de tempo, como Illuria.

Adicionar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *