Análise Textual – Capítulo 27

(Por Thiago)

            No Capítulo 27, fomos apresentados em mais detalhes aos artefatos mágicos d’Os Cinco. Além disso, indiretamente, vimos pormenores culturais de Illuria, que diferem do nosso mundo. E é sobre estes pontos que quero tratar nesta análise.

            Começando pelos Artefatos da Cósmica Exuberância. Quanto mistério, não? Calma, leitores, eu prometo que a origem dos itens mágicos será revelada (em tempo)! Algumas pistas estão espalhadas pela história para os mais observadores. Diferente de algumas das inspirações para nosso universo (como D&D, Senhor dos Anéis e The Elder Scrolls), itens mágicos não são comuns em Illuria. Na verdade, não existem! Um mago pode encantar uma espada e fazê-la emitir fogo, mas depois de um tempo o efeito desaparecerá. Os cinco Artefatos são os únicos itens realmente mágicos de que se tem conhecimento no mundo. Eis a razão de serem tão poderosos.

            Vocês conseguem perceber as referências utilizadas para criar os itens? Se você foi uma criança durante os anos 90, com certeza percebeu. Uma das inspirações foram as cinco armas encantadas dos personagens de A Caverna do Dragão, um desenho animado que assisti muito durante a infância, um dos meus primeiros contatos com mundos fantásticos. Os anéis de Tolkien, assim como também os itens lendários de Elder Scrolls, também fundamentaram a base para criação dos Artefatos da Cósmica Exuberância.

            No RPG mestrado por mim que deu origem à essa narrativa, os cinco artefatos podiam ser encontrados e obtidos pelos jogadores. Veremos algum de nossos protagonistas empunhando a Espada Menestrel? Ou vestindo a Manopla da Potência Gigante? Tocando a Lira Dracônica? Lançando feitiços com o Orbe Mágico? Ou usando o Bracelete-do-Todo (seja lá para que ele serve)? Uma sentença já clássica dessas analises é: somente o tempo dirá. 🙂

            No último capítulo também nos foi revelado que Zacarias e Jeremias são, em verdade, um casal. Isto foi dito durante a reunião dos Arquimagos, em um comentário corriqueiro, de uma forma bastante natural. Se fosse no planeta Terra, talvez o comentário não surgisse tão naturalmente assim, infelizmente. Em Illuria não existem classificações de sexualidade, como heterossexual ou homossexual. Em Illuria, existe apenas o amor entre dois seres, independente de sexo ou gênero. Este é o fator cultural que quero comentar.

            Na mitologia criacionista de Illuria, o primeiro ser criado foi Illuri (conforme vimos no Capítulo 4). Após Illuri, o Criador teria feito as demais raças. Portanto, em Illuria, não existe um Adão e uma Eva, não existe na cultura um padrão limitante na maneira de amar e demonstrar este amor. A noção de “sexo oposto” e “mesmo sexo” é inexistente. Portanto, relações entre dois homens ou duas mulheres são bem comuns e vistas de uma forma banal: não há nada de anormal em qualquer forma de amor, pois todas as formas de amor foram concebidas pelo Criador.

            A única questão é biológica, uma vez que seres do mesmo sexo não conseguem reproduzir (assim como seres de raças diferentes, por exemplo, um elfo e uma humana). Socialmente, isto exerce uma influência maior sobre a nobreza e a realeza, que precisa de herdeiros para preservar sua linhagem e títulos. Não é incomum que nobres realizem casamentos de fachada, para firmar acordos entre famílias, ou simplesmente para gerar herdeiros, quando, na verdade, amavam outra pessoa em segredo.

            Quando Ana e eu começamos este projeto, queríamos dar uma boa repaginada no senso comum da literatura fantástica e trazer debates do nosso tempo para dentro do universo de Illuria. Uma das formas de criticar um problema, é mostrá-lo na sua forma mais crua e cruel, através dos personagens, e combatê-lo através dos conflitos (é o que estamos fazendo com o debate racial proposto pela existência dos elfos siderais). No entanto, outra forma de criticar um problema é mostrá-lo como se nunca houvesse sido um problema desde o princípio; mostrar que é, na verdade, uma ocorrência comum e natural (que é o que estamos fazendo com a temática de gênero e sexualidade). Teremos mais exemplos disso com outros personagens, mas eu gosto particularmente do fato da primeira amostragem ter sido com Zacarias e Jeremias, dois senhores de idade.

            Em Illuria existem monstros, desastres naturais e mágicos, existem guerras e conflitos entre os reinos – problemas muito maiores e reais, que merecem a atenção dos povos. As diversas formas de amar não são sequer um problema pequeno perto disso; ao contrário, não são problema algum. Traçando um paralelo com nosso mundo, acreditamos que a Terra também tenha seus monstros, desastres e guerras, seus problemas reais e evidentes. Nós esperamos que nossa saga possa contribuir para fazer os terráqueos enxergarem os verdadeiros problemas em nosso mundo também.

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