Análise Textual – Capítulo 12

(Por Thiago)

            Terá Mak enlouquecido? Falando com um cofre que sequer viu ainda? Nada disso! Trata-se de um truque narrativo e nesta análise explico seu fundamento. Se você não leu ainda o Capítulo 12, talvez não entenda muito bem do que estou falando agora, então corra lá antes!

            As leitoras e leitores de Illuria já devem ter percebido que esta história, além de explorar um mundo fantástico e sua trama, também tem um forte foco no aspecto psicológico dos personagens como, digamos, uma trama secundária – o universo interno de cada um. Não se trata apenas de world building (sobre o qual já falamos em outras Análises), mas principalmente de character building (construção de personagem). O último capítulo é todinho sobre isso.

            Não, Mak não está louco. É claro que ele falar com o cofre imaginário não deve ser entendido literalmente. É uma forma figurativa de apresentar uma característica do personagem; neste caso, a ganância. Percebemos também que Mak luta contra a voz do cofre, tentando calá-la a qualquer custo, embora nunca consiga. Isso demonstra seu conflito interno e revela o molde do seu caráter: um ladrão que ama roubar, mas que (por alguma razão ainda desconhecida) rejeita sua própria cobiça.

            Nem todo capítulo de uma história precisa revelar novos pontos da trama principal. Tratar da trama secundária (o mundo e o psicológico dos personagens) é uma forma de criar uma base de sustentação sólida para a trama principal. Sem uma base, qualquer edifício desaba, concordam? É claro que em absolutamente todos os capítulos de Illuria têm pistas ocultas nas entrelinhas para vocês desvendarem, as quais dizem respeito à uma história maior que está se revelando aos poucos. Mas isso não precisa ser o foco de todo capítulo e certamente não foi do último.

            O foco do último foi a personalidade de Mak e de Galileo. Sim, Galileo também tem personalidade, a qual também está sendo construída (world building). Apresentar um mundo novo e original é sempre um desafio, porque você tem muitas coisas para mostrar, mas não pode mostrar tudo de uma vez. Precisa ser em doses homeopáticas, então sempre que há oportunidade, eu mostro um tijolinho do nosso edifício.

            Sendo Galileo um cenário importante, merece essa atenção especial. Esta é a minha recomendação para todo escritor de fantasia: explore seu mundo aos poucos, revele-o para os leitores aos poucos, inserindo as descrições dentro da sua trama principal e tramas secundárias. Assim, o mundo vai florescendo devagar, mas elegantemente. Quem lê nem percebe – ao se dar conta, já está trilhando por um mundo familiar, entre pessoas já muito conhecidas. Este é o truque. 😉

            Por fim, uma pergunta aos leitores: conseguem adivinhar em quem Madame Bovári foi inspirada? Se você chutou Madame Bovary, de Gustave Flaubert, acertou em cheio! Claro, algumas alterações aqui e ali, uma abrasileirada no nome e pronto! Perfeita para representar a classe em ascensão em Galileo: a burguesia. Tal qual Flaubert fez com sua Bovary.

            Por hoje é só, pessoal! Até a próxima.

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