Análise Textual – Capítulo 11

(Por Thiago)

            É, Mak, foi por pouco que você se safou! Nosso anão preferido quase se deu muito mal no Capítulo 11, mas a sorte está a seu lado. Nesta análise quero abordar técnica narrativa em cenas de ação (já que tivemos uma no capítulo) e também as contradições dos narradores em 1ª pessoa. Vamos lá!

            Eu me preocupo bastante com a sonoridade e fluidez da escrita; acredito que isso reflete no meu estilo de prosa. Os parágrafos sempre estarão conectados por um (ou mais de um) ponto chave, para criar a impressão de uma narrativa contínua, sem pausas, quase como se você pudesse ouvir os pensamentos dos narradores. Como se trata de uma história com foco no psicológico de seus personagens, nada melhor do que usar e abusar do fluxo de consciência.

            Como os narradores são personagens escrevendo suas histórias, temos que levar em consideração o momento em que eles param em suas jornadas e anotam os acontecimentos do seu dia. É claro que Mak não escreveu sobre as duas assassinas e sobre o ilusionista Mias enquanto a cena transcorria; enquanto a cena transcorria, ele só a estava vivendo (e tentando sobreviver, haha). Da mesma forma que Andrei não anotou a aula do abade (Capítulo 4) enquanto Micael lecionava. Os personagens escrevem depois da cena ter ocorrido, possivelmente num momento mais tranquilo, escrevem o que eles recordam e como eles recordam. Por isso estou sempre alertando nossos leitores a respeito dos detalhes. Pois se um personagem fez questão de detalhar algo, certamente é porque aquilo se fixou na memória dele, logo, pode ser importante.

            Esta mesma métrica é aplicada às cenas de ação, sobretudo combate (e muitas outras nos aguardam mais pra frente, sssshhh). Quando nos envolvemos numa situação de emergência ou perigo, nossos sentidos ficam à flor da pele, a adrenalina nos cega e somos mais instinto do que razão. Quando tentamos lembrar do ocorrido posteriormente, tudo o que nos lembramos é de um borrão embaralhado. Por exemplo, quando você tropeça e cai: consegue visualizar em sua mente cada detalhe da sua expressão facial, dos seus movimentos para tentar evitar a queda? É claro que não. Nossa memória captura o instante em que estamos de pé e, depois, o instante em que estamos no chão.

            Por este motivo, Mak não é capaz de ver de onde saíram os punhais das assassinas. Ao se dar conta, eles já estavam lá. “Depois daquele segundo que durou a eternidade, num piscar de olhos um par de punhais surgiu nas mãos de cada uma de minhas amantes.” Ele simplesmente não se lembra. Sua memória é tudo o que temos para nos basear. Não só a dele, mas como a de todos os demais narradores passados e futuros. Podemos confiar nesses relatos? Desconfiem sempre!

            Isto combina bem com a descrição de cenas de combate (e ação, de um modo geral). Elas não podem ser descritas movimento a movimento. Isso tornaria tudo muito mecânico e monótono. Precisa ser dinâmico para causar a sensação de urgência – a adrenalina – nos leitores. E precisa conter o número exato de informações, nem mais e nem menos, para gerar este efeito. Pouca informação tornaria a cena muito vaga; muita informação tornaria a cena muito lenta. Eu tive a ideia de fazer deste modo porque observei esses vícios em algumas obras que já li. Tem muito de gosto pessoal em Illuria, mas também uma busca incessante por equilíbrio. Espero que estejam gostando!

            Por fim, a parte da contradição. Já falei sobre isso em Análises anteriores. Os narradores de Illuria são pessoas como você e eu, imperfeitos, confusos e, às vezes, perdidos. E, como pessoas, eles mudam de ideia e se contradizem. Por exemplo, Mak, que tanto elogiou e praticamente fez uma ode a Galileo ao curso de vários capítulos, subitamente muda seu discurso: “Com mil caralhos, Galileo! Não se pode baixar a guarda nem um minuto nessa latrina de cidade!” As circunstâncias alteram os pontos de vista. Nossos narradores-personagens não são imutáveis – a história os afeta e eles se desenvolvem. É bem possível que isso ocorra ao longo de toda a trama. Afinal, literatura também é sobre a evolução dos personagens, não é?

            Por hoje é só, pessoal! Até a próxima!

Adicionar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *