Análise Textual – Capítulo 2

(Por Thiago)

            “O que são sonhos?”, com esta pergunta inicia-se o Capítulo 2 de nossa saga. E, através do monólogo filosófico, introduz um novo personagem-narrador. Andrei Fortana, um explorador e historiador independente. Ainda sabemos pouco sobre ele, mas teremos tempo para conhecê-lo melhor, pois o acompanharemos mais um tico (seria uma pista? 😉 ). Andrei é um dos protagonistas de Illuria e seu capítulo introdutório mostra-nos que está trabalhando numa espécie de enciclopédia – o Compêndio Illuriano. No livro, ele documenta seus achados, com dois focos principais: o atlas e o bestiário. O atlas, como já diz o nome, é um registro geográfico das localidades, terras e reinos do mundo. O bestiário trata das raças, monstros e animais.

            O Compêndio não é somente uma forma de agregar uma característica interessante ao personagem, mas também uma técnica narrativa, a qual gostaria de comentar: construção de mundo (do inglês worldbuilding). A maior dificuldade em escrever uma história com narradores em 1ª pessoa é pensar para quem a história é contada, sobretudo em se tratando de fantasia. Já comentei brevemente sobre isso na análise passada (link) e posso elaborar melhor agora. Illuria não é o nosso mundo, não é o planeta Terra – talvez nem seja um planeta, não sabemos! E sendo um mundo tão díspar do nosso, há muito a ser explicado (por nós) e entendido (por vocês). Mas se os personagens escrevem para leitores illurianos, por que eles se preocupariam em explicar o que presumem já ser de conhecimento geral? Esta, confesso, é a parte mais difícil em escrever esta saga. Como fazer vocês, terráqueas e terráqueos, entenderem um mundo novo sem explicações excessivas por parte de seus narradores? Encontrei algumas soluções para isto e o Compêndio Illuriano é uma delas. Através dos apontamentos de Andrei, o universo de Illuria irá se revelando aos poucos, por meio de seus comentários sobre criaturas que vê ou lugares por onde passa. Modéstia à parte, eu gostei bastante desta solução; inseri-la no contexto da história não quebra a quarta parede e apresenta-se como um arranjo elegante: um personagem explica, não o autor.

            Os apontamentos para o Compêndio virão, geralmente, ao final dos capítulos narrados por Andrei e focarão em algum ponto específico do episódio em questão. Neste caso, foram os goblins. Sei que a maioria das leitoras e leitores de Illuria já devem estar familiarizados com estes monstrinhos (que eu curto demais, haha), afinal, são criaturas clássicas em fantasia medieval e RPGs. Contudo, nosso intuito com esta saga é produzi-la para todos, inclusive quem nunca teve contato com literatura fantástica. Além disto, em cada universo os goblins aparecem de um jeito diferente, embora compartilhem uma essência básica entre suas muitas versões; havíamos de demonstrar o nosso jeito, os nossos goblins. O que acharam deles? Ainda causarão muitos problemas por aqui, são especialistas no caos. Uma outra razão para explicá-los é o fato de não serem comuns ao folclore brasileiro e nós estamos dando uma atenção especial a isso: abrasileirar ao máximo. Esta também é uma barreira a ser transposta, uma vez que o grosso da literatura fantástica medieval tenha como influência a Europa na Idade Média. Falaremos deste ponto em particular em uma análise futura, no entanto, os leitores mais atentos terão percebido uma menção bem discreta a uma criatura do nosso folclore.

            Querem voltar lá no Capítulo 2 e ver se a encontram? Vai lá, tá aqui o link, eu espero. (…) Então, encontraram? Se você apontou o “labatut”, acertou em cheio. O labatut é o ciclope brasileiro. O Compêndio ainda tratará dele mais para frente, mas para os curiosos, deixo aqui um artigo (link) com mais informações. Nosso folclore é tão rico em lendas e queremos aproveitar algumas delas em Illuria, as que fizerem sentido, e adaptá-las ao nosso universo. Esperamos fazer jus a elas! 🙂

            No mais, descobrimos também que Andrei, embora um grande conhecedor do mundo externo, está vivendo um conflito com o mundo interno. Tudo por causa de um sonho que vem se repetindo e tirando seu sossego. Ele está se dirigindo a um monastério para falar com um abade (Micael) sobre este sonho, quando avista os goblins. Andrei faz algumas menções desconhecidas ainda para nós: Bosque dos Lamentos, cordilheira Mandíbula do Dragão, o próprio monastério… Que lugares são esses? Nós não temos como saber ainda, porém, sem dúvida um illuriano que ler o diário de Andrei, saberá de imediato ao que ele se refere. Entenderam a dificuldade que citei lá em cima? E mais, somos apresentados, pela primeira vez, aos destroços da grande guerra; Andrei está se deslocando através de ruínas, conforme ele diz. Porventura as mesmas que Malaquias quer revirar (ainda que metaforicamente).

            Por fim, chamo atenção para o sonho recorrente do explorador. Tem algo de familiar nele, não? Algo que já vimos antes? Deixo esta descoberta para vocês, aventureiras e aventureiros. No domingo, Andrei chega ao monastério e vemos o que acontece.

            Até lá! 👋😀

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